segunda-feira, 25 de maio de 2015

Só peço o infinito...

Às vezes o tempo é muito injusto conosco. Não temos direito de aproveitar tudo o que queremos, somos escravos de um tempo maldoso que esgota horas inteiras em poucos segundos... É assim que me sinto quando estou com você. Por mais que passe o dia inteiro contigo, ainda sim gostaria de viver uma eternidade ao seu lado. Por mais que passe uma eternidade ao seu lado, ainda sim gostaria de viver uma eternidade multiplicada por infinito, e assim dispor de todos os segundos do universo para vivermos unidos.

Todas as vezes que nossas mãos se unem e nossos dedos se entrelaçam sinto as nossas vidas, destinos e corações se cruzando e interligando, como se tudo se complementasse, como se tudo estivesse muito certo. Todas as vezes que me abraça, me sinto acolhido e protegido do mundo inteiro, como se o mundo em si já não existisse, logo, não precisaria mais me preocupar com coisas externas. Quando me abraça, tudo o que existe no meu mundo se resume a você!

Todas as vezes que nossas testas se juntam, e nossos olhares se fixam, percebo como são lindos os seus olhos, os castanhos mais bonitos que já vi. E neles eu adentro completamente hipnotizado, mergulho sem medo da imensidão dos seus sentimentos. Nessa profusão de felicidade e querer, pouco a pouco, mais e mais, quero desesperadamente me afogar na sua imensidão. Excluir tudo o que chamo de real, e materializar somente você em mim. Todo o meu mar em desespero se acalma, quando seus lábios tocam os meus. Nesse instante de êxtase total, encontro-me totalmente imerso na única vontade que tenho, fazer-te a pessoa mais feliz deste planeta!

Já não importam as verdades universais, nem os milagres divinos, ou as suposições de algo maior que nós, pois toda a grandiosidade dos meus dias começa com um único "Bom Dia" seu. Também não importam mais as qualidades alheias e todas as insignificâncias da vida. Os meus dias se tornam mais coloridos, mais alegres, mais vivos quando me pergunta se estou bem. O meu coração pulsa infinitamente mais rápido sempre que diz que gosta de mim.

O Amor tem dessas coisas! Falo infinitas vezes durante o dia que gosto de você, e certamente isso lhe causa tédio. Acho que por gostar demais, repito mil vezes a fim de garantir que a minha mensagem vai adentrar no seu coração. Talvez inconscientemente, eu ache que a repetição fará com que entenda a imensidão do meu gostar.

Queria ter mais tempo contigo, para vermos milhões de crepúsculos, para observarmos milhares de estrelas, para termos dezenas de sonhos, para vivermos uma vida! 

E mais uma vez, tudo o que tenho a dizer é que eu gosto muito de você!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Da escuridão ao Clímax

Lá estava eu no meu quarto escuro, esta negrura gigante que aflige meus sentimentos, ou será que meus sentimentos que formam essa escuridão? Não sei... Coloquei-me em frente à janela, único ponto em que a luz pode adentrar no recinto. De repente percebo que a janela está suja, imunda, coberta de tanta poeira que fica extremamente difícil enxergar qualquer coisa que esteja lá fora, talvez seja por isso que eu me isolo em meu quarto, nunca enxerguei beleza no mundo exterior.
Ao olhar para o céu, via duas luas. Uma era um tanto convencional, límpida, branca, espelho do sol; a outra era muito maior que a primeira, de um vermelho sangue intenso, cheia de frestas, fendas, feridas, e percebo que a mesma poeira da minha janela, se faz presente nesta lua macabra. Mesmo assim era certamente dificil falar mais coisas, era dificil avistar qualquer coisa com tanto pó incrustado na janela. As flores por exemplo, nunca passaram de borrões de tinta, sem detalhes, sem vida.
Algo realmente me chamou a atenção do lado de fora, pela primeira vez isso aconteceu. Era um encanto? Como conseguia observar tão bem doce encanto? Acredito que foi a sua luz que me fazia te observar tão claramente, era mais forte que a luz de qualquer estrela, irradiando sobre meu quarto, mostrando-me sua beleza. Avivando minha vida, avivando meus sentimentos que pouco a pouco iam se formando.
Era de uma beleza triste, pensamentos tristes, repleta de mistérios. Em um olhar mais sóbrio, consegui perceber quão profunda é sua alma, é como um abismo sem fim, é como o mais profundo dos oceanos, habitado pelo nada, um vazio que dói no peito. Sinto imensa vontade de afagar seu coração, mas como posso chegar até você, se és mar profundo e eu lagoa rasa? Eu não posso adentrar na sua alma, mas você pode adentrar na minha.
Minha respiração começa a se tornar mais e mais ofegante. Imagino cenas, sinto desejo, sinto querer. Meu Deus, porque tantos tormentos agora? Deixa-me aqui, no meu quarto escuro, circundado pelos sentimentos sombrios e débeis que assolam meu espírito. Mas, é triste a constatação, não posso mais ficar isolado em meus aposentos, sua presença se faz indispensável em meus dias.
Ah! Como quero viver esse amor, ser tomado pelas correntezas desse mar bravio, ser desacorrentado dos pudores, sentir sua mão benfazer meu corpo em um toque com intensidade de milhares de toques, sentir sua doce brisa dos campos passando pela minha nuca, receber em mim seu corpo. Como quero ter as minhas coxas entre as suas, sentir o vai e vem dos desejos da matéria, ser tomado pela força dos seus atos, pela profundeza dos seus mares.
Aquece minha alma e alimenta minha carne, rasga o véu da minha inocência, arranca-me os pudores, o falso moralismo. Vem me amar, me querer, me ter em suas mãos, em seus lábios, nos seus quadris. Alimenta minha alma e aquece minha carne, vem proteger-me do mundo, lançar-me ao fogo dos seu anseios. Sinto sede dos seus beijos, vontade do seu peso sobre meu corpo, da ferocidade do amor. Sede animal. Deixa os nossos corpos se encontrarem, nossos sexos se chocarem. Deixa o instinto mostrar os caminhos da felicidade e do prazer.
Vem... pois sem você sou lagoa rasa, pouco profunda, enxuta. Sem você sou vazio que não cessa, sou sentimento inerte, sou debilidade de querer. Vem... faz-me seu. Vem... preenche o vazio da minha alma com a profundeza do seu vazio. Enchemos por fim nossos vazios mistos e conjuntos com amor da carne e do espírito, enfim, chegamos ao clímax.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Medo de não Amar

Tenho medo dessas paixões avassaladoras que chegam sem hora marcada. Não tenho medo de vivê-las, tenho medo que elas acabem assim como chegaram, sem uma despedida, sem um adeus. Mas, se acabam, não eram reais, nem palpáveis, nem coerentes...

Tenho medo dessas paixões avassaladoras que chegam sem hora marcada, mas marcam profundo nas nossas vidas. Dessas paixões que unem dois corpos sem uma certeza de que dará certo. Dessas paixões insanas que levam a questionar toda a ordem do Universo.

Tenho medo de todas as paixões que começam com coelhos, passam por corujas e terminam em pandas. Medo das paixões multicoloridas que colorem os sorrisos, os traços, os afetos. Medo de todas as frases meigas, de todas as risadas sinceras, de pular infinitas vezes de forma marcada de tanta alegria que sinto... No fundo sinto medo de ser Feliz, porque a felicidade exige manutenção, continuidade.

Seria tão mais fácil viver num pontículo inerte a qualquer força, bem no meio do Sombrio espaço... ali não teriam cores, nem corpos, nem paixões, nem felicidade....

O medo nos acovarda, nos põe contra paredes, nos surra, nos mata... Deixa oportunidades passarem como trens que se vão e nunca mais retornam. Por isso escolho a Felicidade, a alegria dos pulos, dos pandas, das corujas e dos coelhos, das paixões multicoloridas, das leis questionadas, dos corpos unidos, das paixões avassaladoras que não sabem marcar hora pra chegar. Escolho viver cada momento e guardá-lo dentro das minhas memórias. Escolho amar incondicionalmente, tanto quanto possa, tanto quanto conseguir... Amar mais do que posso, mais do que consigo.

Escolho ser uma simples libélula em busca de luz... Escolho ser uma simples libélula guiada por uma estrela que não deixa de brilhar e que me levará a tantos lugares quanto forem possíveis, que me mostrará como amar, como sorrir... Escolho ser essa simples libélula, guiada por um único facho de luz, por uma única estrela guia.

domingo, 1 de dezembro de 2013

A dança da Bailarina

Ao olhar para as estrelas do céu
Via uma, que não parava de bailar,
Hora em que todos os Astros cessaram
Para ver a Bailarina dançar.

Sua dança era tão serena
Quanto rosas sopradas ao mar,
Embaladas por doces beijos,
De um lindo casal a se amar.

E lembrei-me da doce Colombina,
Também de seu apaixonado Arlequim
E da meiguice nos olhos da estrela
Supus encontrar o amor enfim.

E se pudesse colocar sua luz
Numa caixa de música só minha,
Daria a ti, minha doce bailarina
Toda felicidade que a ti caberia.

Mas sei que todo meu Amor
Não passa de uma vaga ilusão,
Pois você habita nas estrelas
E eu nesta Terra de desilusão.

Então da janela do meu quarto
Sempre estarei a te observar,
pois meu coração sempre será amante
Da sua dança em noites de luar.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Amando... agora, depois e sempre

As pessoas amam, como se o mundo fosse somente paixão,
As pessoas clamam pelo amor em suas múltiplas facetas,
Mas, é loucura se entregar de corpo e alma, a um amor perdido,
Um amor bandido, que rouba sua esperança e destroça seus desejos...

Amam como selvagens, e como selvagens rolam em relvas,
Suprimem seus desejos inconstantes, desdenham a paixão mais próxima,
E aderem ao sofrimento romântico, com uma incerteza,
Estar no caminho certo...

Amar... Como amar? .... Ser amado? ou ensinar a amar? ...

E depois, chorar pelo desprezo, mas sonhar com um novo amor,
Chorar ouvindo Bethânia, e não ter certeza do após,
Dar-se conta que pessoas amam, mas nem sempre como nós amamos,
E de tanto amar... morremos.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Às vezes...

Às vezes somos negligentes com nossos sentimentos, deixamos nos levar por águas fortes e ao mesmo tempo profundas. Tantas vezes escolhemos sofrer, acreditando piamente que a dor do presente, irá se transformar em felicidade... mas não, nada do esperado acontece, nossas almas, antes claras e puras, são tomadas por sentimentos fétidos, pútridos, abrindo gigantescas feridas em nossos peitos.

Acreditar em alguém requer muita confiança... acreditar no sentimento de alguém requer muito amor...

A verdade é que se entregar de corpo e alma, sem uma “apólice” que assegura o retorno do seu sentimento pode sair caro... e esse amor, mal compreendido, mal admirado, mal quisto, acaba por ser o responsável pelos afogamentos das mágoas dos sábados, pelo consumismo exacerbado de doces dos domingos de manhã, e os soluços compulsivos e escondidos nas fronhas dos travesseiros nas noites enluaradas.


Amar é uma arte, tanto dramática quanto romântica, tanto branca como negra... e no fim de tudo, sobra somente em meu peito, a dor de um amor mal amado, a inquietude das vísceras se estremecendo em nós e o gosto amargo de um beijo desejado.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O PRÍNCIPE E A FIGUEIRA


O PRÍNCIPE E A FIGUEIRA

A calmaria da noite deslizava lentamente pelo tempo, trazendo o esplendor da unânime beleza dos longos e verdes campos do vale de Bolônia, clareados pelas três luas que compunham seu sistema. Sentado e recostado na velha Figueira, admirava os céus maculados, mas lembranças corriam pela memória de um príncipe malgradado, pela intensa luta contra as guerras oriundas da selvageria da alma humana. Em lúgubre pensamento, murmurava:

- O homem doente esqueceu-se do encanto da vida. Corre em suas veias a tolice do poder, que o cega, que o infelicita, que o torna tão animal quanto às feras soltas em florestas. Sim, animal-canibal, que rouba seu semelhante, que os mata e devora antes mesmo do pedido de clemência. Ah! Se a bondade inflasse a sua alma, lutaríamos por um reino mais justo, semeando a felicidade que colheríamos em seguida. – longa pausa fez, antes de concluir – Homem tolo, sem escrúpulos!

Olhava vagamente para o breu como se buscasse algo que não podia ter naquele momento. Suas mãos afagavam a terra preta e as raízes da robusta e gigantesca Figueira. Contemplava a tão exuberante espécie e inspirado por sentimento desconhecido disse ao vento:

- É tão poderosa a natureza, suas formas bem esculpidas pelo Senhor das criações. A intensidade das cores, a proficiência da lindeza, a sensibilidade das linhas que desenham os traços bem marcados da divina Mãe Natureza, a beldade das beldades que nos enlaça com seu aroma celeste e nos faz invariavelmente crer que a vida existe e que ela não é uma realidade paralela ao nada.

Neste momento, ouvi-se pequeno riso de tom agudo, vindo do alto da Figueira. Num primeiro instante o príncipe pensa serem os sons da agradável natureza, porém ao se repetir, olha em direção a copa da árvore e deslumbra-se com a visão de La femme mais linda que já vira na vida, mais bela que todas as rainhas e princesas de todos os reinos do norte e do sul juntas. Como num passe de mágica, como que se teletransportada, a donzela ainda desconhecida aparece em frente ao príncipe e com sorriso misterioso o cumprimenta como somente a mais educada lady poderia fazer. Trajada com um vestido simples e sem estampas, longo, de um branco translúcido tal como as três luas faziam com o céu à noite, chamou à atenção do príncipe que embasbacado com a primorosa dama somente o fez assentir com a cabeça.

A formosura encadeada pelos longos cabelos loiros encaracolados que transpunham a realidade conferia aspecto solene à musa embevecida de beleza singular. Sua tez esbranquiçada, iluminada pela luz da sétima estrela do sul, a fazia única entre tudo de mais bonito. Seus olhos claros, em tom de violeta, encadeavam voraz paixão a todo mortal que se atrevesse a olhar no profundo de sua pupila, sua boca carnuda em lábios rosados lhe entregavam sua forma de irresistível apreciação. Seu corpo aviolado, tão esculpido e bem feito quanto à natureza. Seus seios arredondados, espremidos pelo vestido, não a vulgarizavam, somente a deixavam mais esbelta. Era como se um anjo descesse do alto dos céus trazendo a perfeição una da beleza divina.

Em total silêncio, sem esboçar reação, o príncipe fitou a jovem dama por inteiro. Empalideceu-se. Enrubesceu-se. Em total espanto, fitou-a novamente, desta vez, porém, verificando-a por inteiro. Sim, era a ninfa serene de suas visões que o visitava pela primeira vez. Indescritível o era a sensação que tomava o espaço, enternecido pela emoção, dirigiu a palavra à dama de branco:

- Tanto esperei pela sua chegada... – após breve suspiro, o príncipe continuou – Lembro-me da primeira vez que a vi em meus sonhos, fora também à primeira vez que despertara o amor em mim. E pensava quando teria a terne oportunidade de conhecer meu amor, repetia versos e maquinava meus dizeres para que quando nos encontrássemos o silêncio não se fizesse presente. – Após longa pausa o príncipe concluiu – Os versos bonitos se esvaíram, pois não chegariam ao merecimento de sua formosura, os dizeres me foram esquecidos no momento que a vi. Resta me apresentar conforme manda o protocolo: Sioux Savanam, príncipe do reino de Bolônia.

- Farrah Di Vita, é um grande prazer conhecer pessoalmente vossa alteza, – disse a jovem donzela, ainda corada por tantos elogios concebidos a ela – também sinto em profundo sentimento que nosso encontro se fazia marcado por destino tão feliz e, por favor, perdoe se interrompo seus pensamentos, mas encantei-me com sua filosofia tão triste e realista. Remontam ideias utópicas onde o homem faz de sua morada reino de passividade e bondade. Deve ter passado por grandes tristezas para visualizar seu igual de forma cruel, insípida, de certa forma a desacreditar em seu sonho.

Após as singelas palavras da doce Farrah, passa pela mente de Sioux, o porquê de seus pensamentos...
“Bolônia era uma província pacífica quando o príncipe ainda era criança, seu avô era rei justo e fez seu reinado para seus súditos. Nunca houve melhor governante para os moradores do reino, a paz e a tranquilidade eram presentes a todo o momento trazendo o ar de sua graça. Após a morte do governante, o luto se estabelecera no local durante um ano assim como mandavam as convenções, neste tempo de grande tristeza somente um ser se encontrava em imensa felicidade, Marvolo Savanam, pai de Sioux, próximo na lista de sucessão ao trono de Bolônia. Este não possuía as mesmas idealizações do antigo governante, habitado por ganância extrema, avareza e soberba, conduzira o reino a um estado pútrido, quando fez dele um grande buraco de caça a diamantes. A felicidade já não mais reinava na população, uma vez que eram obrigados ao trabalho compulsório nas minas para o enriquecimento de um governante tirano. Sioux nunca aceitara o comportamento insano de seu pai, mas não continha forças suficientes para dar fim à tortura de seu povo, sendo obrigado a concretizar as ideias fétidas de Marvolo.

Conforme passava o tempo, aumentava a ganância do rei, que além da ideia de província mineradora, agora também queria se tornar dono da maior economia do planeta. Foi quando começou a ter ideias de expansão territorial, para angariar recursos para tal feito. Montou exércitos, criou sua armada pessoal e impôs sua vontade em primeiro plano, sem pensar em outrem. Com imensa tristeza a rainha, mãe de Sioux falecera, o que dera mais força a Marvolo que agora, além de querer mais poder, queria que o mundo pagasse por sua perda.

A armada de Bolônia contava com infantaria de oitocentos mil homens e para tanto era necessário um general de total confiança do rei, seu escolhido fora Sioux, que rejeitou a oferta, porém, sendo obrigado posteriormente, fora posto a contragosto...”

A intensidade com que as lembranças corriam pela mente do príncipe assombraram-no. Depois de inspirar grande quantidade de ar para segurar as emoções e da vil lágrima escorrer-lhe face abaixo, olhou ternamente para Farrah e concordou com sua afirmação:

- Realmente, passei por muitos pesadelos, graças à insensatez do homem, mas também graças à exposição deles em minha vida desenvolvi sentimentos contrários aos infraternos corrosivos da humanidade. Veja por exemplo esta Figueira, apesar da longa idade que nota-se nitidamente, cumpriu seu papel na natureza, de acordo com sua missão, não tomou o espaço de outrem, pelo contrário serviu de casa aos pobres pássaros que procuravam bom lar; deu frutos ao viajor que necessitava de comida; abrigou da chuva tantos casais de namorados, que diante dela repetiram votos de fiel amor. Se a humanidade fosse pouco mais igual a ela, seriamos então como toda a natureza, cresceríamos sempre, não importando as barreiras em nosso caminho.

A linda musa somente fez concordar com o príncipe. Reparou que os olhos dele brilhavam quando se discorria sobre suas visões de um mundo melhor. Sua ideologia era fascinante, sua pureza de pensamentos iluminava-no por inteiro.

Farrah sentiu-se enternecida pelo bom coração do príncipe, guerreiro dos indefesos, além de completamente atraída por beleza indescritível.
Sentou-se ao lado de Sioux e entre olhares místicos, irrequietos, percebeu que os dois sentiam sentimento nobre, onde o coração pulsava de forma rápida, quase como máquina, quase infinita, com toda certeza amor.

A mão frágil da moça corre pela face do príncipe dos sonhos vagarosamente. Rompe a camisa dele com suas unhas. Entristece-se com as tantas feridas abertas que vê. Acaricia os machucados, como se tentasse curá-los, tão logo estava a chorar comovidamente:

- Perdão Sioux, sinto ter que fazê-lo... Por que foi à guerra que tanto repele? Por que deixou se ferir pela lâmina de espadas impregnadas de ódio? Por quê? Por quê? ... – exclamou Farrah, entre soluços sentidos.
Mais memórias passam pela mente do príncipe de Bolônia...

“A armada do rei tirano parte para Tormida de Vanoun, reino de riquezas inestimáveis; os guerreiros munidos de todos os tipos de armas brancas inspiravam-se com a visão imunda que tinham do saque referido como ‘Invasão dos Sem Lei’, fazendo referência à forma impiedosa e sem compaixão com que o rei mandara o exército agir. Ao chegarem ao local da invasão, encontram-se com a tropa inimiga, um aglomerado gigantesco que atingia o assombroso milhão.

Começa uma guerra irracional, impiedosa, repleta de sangue e ódio; espadas rompiam o sacro corpo de seres iguais aos que as empunhavam; crianças eram usadas de escudo para indivíduos de alma pútrida; Sioux, em meio a toda confusão, fez berrar razão para tentar terminar a loucura estabelecida, porém, de nada adiantara. Correu em meio a gládios, buscou pela fé para tocar o coração das pessoas que não lhe deram atenção. Ao ver jovem moça ser morta pelas mãos de tiranos sanguinários, corre a luta de esgrima, sem sucesso, é atingido diversas vezes pelas lâminas, que infringiram cortes profundos na morada de seu espírito. Em estado lastimável, sem mais poder fazer nada, sentiu o corpo lhe pesar, seus membros falhavam, cambaleando, fugira, embrenhando-se na densa floresta que cercava o reino invadido. Já longe de todo o combate, sentou e recostou em velha e gigantesca Figueira...”

Sioux observa Farrah em prantos, e já sem forças diz que é grato a vida e aos Céus por ter a conhecido. Neste momento, a musa encantadora mantém seu olhar fixo no olhar do príncipe, e discorre sobre os motivos que a fizeram ir ao seu encontro:

- A vida vos é dada pelo amor que pulsa e impulsiona a humanidade, e assim como tudo chega o momento de seu fim. Sioux, eu marco o fim do que começou, cresceu, amadureceu e no término da jornada morre, essa é a minha função príncipe dos homens, sou a ceifeira da reação da paixão, sou a transformação e evolução, sou o ponto que dá fim, mas além de tudo, sou o ponto que possibilita nova frase... Sim Sioux, eu sou a morte e vim com o intuito de dar fim a sua agonia...

Lágrimas correm brandamente pelo rosto dos dois apaixonados, ele a vida que age, que fortifica, a razão, a concretização; ela a transformação, a emoção... Farrah inclina a cabeça levemente à procura dos lábios do príncipe. Em beijo terno, explodiam sentimentos, ardia o amor; o coração dele acelera como se jorrasse pela última vez a carga da vida pelo seu corpo, logo desacelera por completo, sentiu frio intenso, tudo ficou branco, logo não vira mais nada...

Enfim, o beijo da morte encerra o sublime ato da vida, dando continuidade ao tempo corrido; o corpo, quieto, permanecera calado, desfalecido a frente da gigante Figueira, única testemunha da terne filosofia do príncipe dos homens; do amor entre Farrah, à bela ceifeira e Sioux, o jovem de linda utopia. Tudo ficou mudo, somente a grandiosa Figueira banhava em ladainhas a alma do príncipe, quando o vento passava pelas suas folhas e galhos, alma esta, que ascendia em direção aos Céus maculados de bênçãos que brindavam sua chegada, ao lado de sua amada, a bela e doce Farrah.